22 abril 2009

Dia da Terra

Terra mista de chamas e de frialdade
Chora azul, chora pó sedento de pão.
Das tuas lágrimas, vejo renascer o mundo.
Cada gota provindo dos teus olhos
Torna-se oceano para o martirizado navegante.
Morre, terra, Morre ventre acolhedor.
De tua morte brotam sonhos,
Sonhos que se frutificam em forma de vida.
Enquanto a terra morre,
Nascem grãos fecundos.
Ora, mãe, se és tão imensa,
Por que, então, a fome, a seca, a ganância,
Crescem na mesma dimensão?
Talvez responderia que seca maior
Agoniza no coração do homem,
Este ser movido pela ambição.
Esta máquina mortífera,
Que dia após dia cava o buraco de sua própria morte.
Corpos parcialmente esqueletizados
Padecem de fome e de afecto
Infinitos são os rostos
Clamando por um único suspiro de vida.
A carne já não penaliza-se com a dor
A carne já está fria, já não come,
Não respira, não reza,Apenas se decompõe
E torna-se grão de volta à terra
Esta mesma terra que o fez nascer.
Mas embora a matéria seja efémera,
Cortada, lesada, mutilada,
Escravizada, injustiçada, amordaçada,
Flagelada, crucificada e enterrada,
Não há morte capaz de apagar a essência da alma.
Este cálice de esperança que roga intensamente por paz.
Não a paz dos homens,
Não a paz das elites,
Ou dos que se julgam isentos de pecados.
A paz que a alma tanto suplica está no silêncio
E na sensibilidade
e dos humildes.

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